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28 de março de 2008

Próxima parada: inspiração


Quem inventou que essa tal de inspiração deveria aparecer nas horas mais inexistentes do dia? Até parece aquele slogan do Unibanco - que é 30 horas -, mas a gente nem imagina o que ele faz nas 6 horas que sobram.

Você fica ali, na frente do computador com aquele arquivo word aberto, escreve uma frase, apaga tudo, escreve outra e apaga novamente.

Então, você sai lá fora pra fumar um cigarro (detalhe que eu não fumo, aí só me resta um chocolate engordativo), pensa em tudo o que é mais aleatório (porque sabe que é assim que surgem as idéias), mas ela não vem. Termina o cigarro, acende outro (modo de dizer), conversa com um colega de trabalho e vem a idéia. Ele não pára de falar e você com aquela frase pronta na mente, na ponta da língua, já não prestando a mínina atenção no que diz seu ilustre amigo, tudo em prol de segurar a frase no pensamento.
Ele dá uma pausa na falatória (ainda bem que não pediu sua opinião) e você joga o toco de cigarro fora (no meu caso a embalagem do Sonho de Valsa) e corre para o word escrever o slogan premium master top.

Neste momento, percebe que o pc está travado (por este motivo você saiu lá fora para acender seu cigarrinho) porque o Murphy inventou aquela Lei. Enfim, encontra um papel e caneta e na hora de escrever grita um palavrão (mentalmente) e diz: - %$*&*, esqueci.

Inspiração tem horário marcado igual cabeleireira e médico. Sempre atrasa. É pegar no sono, luzes apagadas, achar a melhor posição na caminha e ela chega. Desesperada por um pedaço de papel e uma caneta Bic.

Incrível como a sua imaginação SEMPRE acha que no dia seguinte você vai lembrar de completamente todas as idéias que chegaram na calada da noite (e não encontraram papel), como se fosse uma notícia bombástica, plantão da Globo, fofoca da atriz principal. Que nada, a idéia é esquecida na mesma proporção de um BBB que saiu da casa terça passada (ou é na quinta?).

E lá vai você, levanta sem calçar o chinelo correndo o risco de levar uma bronca da mãe, meio tonta, tenta não acender a luz, mas não funciona. Já perdeu o sono mesmo. Encontra a caneta que já estava meio preparada – no caso da inspiração conseguir encaixar um horário melhor pra você do que a secretária do médico consegue -, e escreve (atrás do boleto da Renner ou do folder do restaurante de comida a quilo) umas unidades de palavras meio desordenadas para correr logo para a cama. Ufa! A idéia ta ali. Agora pode chamar o próximo: - Sono! Esse vai demorar pra vir. Mas você continua metade feliz, porque a outra metade da felicidade está no verso daquele boleto.

No dia seguinte acorda, abre a janela sorridente como comercial de creme dental, sempre atrasado demais para tomar café (no meu caso Nescau), e um pouco adiantado para assistir os primeiros blocos da Ana Maria Braga (eu não escrevi isso).

Sai correndo, pega o carro e vai trabalhar (como sou Carbon Free, vou de ônibus). Ah, a inspiração, ao menos a minha, também anda de ônibus. Já criei alguns slogans premium master top depois de passar a catraca.

Chega na agência e lembra que o folder da comida a quilo ficou em casa (ou o boleto, não interessa). Encurtando a história (já está meio maçante), descobre que naquela hora que você abriu a janela sorridente como comercial de pasta de dente (fui obrigada a rimar), minutos mais tarde a idéia voou pela janela. Literalmente.

Agora estou mais prática e guardo minhas idéias no gravador do celular. O pior é que no dia seguinte, quando vou ouvir aquela dúzia de palavras com voz de nariz entupido, eu sempre digo: - Que diabos eu quis dizer com isso?!
Fica sempre pela metade. O jeito é levantar, calçar o chinelinho (se der tempo) e pirografar a idéia numa pedra (finja que não leu isso).

E lá se vai mais uma redatora para o trabalho, que passa pela catraca, enquanto aguarda a idéia chegar. Espero que chegue antes do ponto de descida.

Mireille Almeida pegando todos os transportes coletivos do terminal urbano até encontrar AQUELA idéia.

20 de março de 2008

Páscoa Choco Free (já to chorando)


E às vésperas da Páscoa, minha data preferida, a data onde mato, estrangulo e devoro (bem literalmente) meus desejos mais doces, senti um gostinho amargo antes de abrir o primeiro ovo. Como se ele fosse de alface recheado com chicória.

Meus dias assaltando a despensa estariam contados e meus domingos cobertos por uma camada do delicioso chocolate ..... (alguma empresa de doces quer patrocinar esta frase?) estariam fadados ao ocaso??

O que eu faria com um dos momentos mais prazerosos do meu dia?

Já estou me sentindo fraca. Só me resta morrer de inanição.

Sempre tive uma mente doce (no sentido bem literal) e um pensamento calórico. Enquanto minha mãe escolhia o restaurante pela salada, variedade de pratos e preço, eu escolhia sempre pela sobremesa. Sempre.

Nada de sagu, gelatina picada ou pudim de caixinha. Aliás, durante os nove meses que morei no ventre de minha mãe, contam que ela comeu sagu durante os 270 dias da gravidez (demorei pra fazer esse cálculo). Nasci enjoada. Porém, apenas de sagu.

Antes sequer de abrir os ovos que o coelho escondeu, eu abri meu exame. E não gostei do recheio.

Um exame de rotina que iria mudá-la (a rotina) de marrom para verde. De deliciosa para sacrificante. De doce para qualquer sabor que você deteste. De embalagem bonita e atrativa para direto do campo. Mas, que por fim, iria fazer despencar o que estava lá nas alturas: o meu colesterol.

Toda decisão – mesmo que forçada – é feita de escolhas. Não escolhi o rabanete. Não escolhi deixar de comer doce. Mas imitando todas as chamadas de revistas em prol da saúde, escolhi POR UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL (acho que esse slogan é de alguma margarina).

Caros poucos, porém queridos, leitores. Estou desafiando o meu vício a trocar (não para sempre) cada ovo de Páscoa por um ramo de alface. ‘Ramo’ não seria de flores? Não importa. O que importa é que vou tentar, mesmo que noventa por cento de mim não acredite que eu vá conseguir. E os outros dez tem certeza que não.

Em torno de quarenta dias (só comendo alfafa, rabanete, cenoura e outras delícias) espero estar com a cotação glicêmica atropelada para, então, retornar às minhas atividades chocólicas novamente. Dia 1º de abril (data bem aleatória) eu retorno aqui com o post: CACAU FREE - Como me libertei do vício.

Quem me conhece, que me compre (me compre uma barra de chocolate para eu comer com mousse de maracujá).

Mireille Almeida contando até 40 bem rapidinho. Mas ainda to chorando.
Ps.: espero não ter mais nenhuma novidade novinha em folhas (de alface) para contar.

18 de março de 2008

Stop

Certa vez eu estava arrumando algumas tralhas e tranqueiras num armário e meu irmão, na época com 9 anos, pegou um dos objetos, olhou, olhou e intrigado perguntou:

- Mimi (ele me chama assim), o que é isto?

Por um momento me senti tão antiga, tão do século passado (pior é que nasci mesmo no século passado)! Um objeto que marcou a minha infância, a minha pré-adolescência, tornou-se um OVNI para uma criança que conhece de play station a orkut.

Mesmo me sentindo nesse estado deplorável, ri muito e respondi:

- É uma fita cassete. Eu usava fitas para gravar músicas da rádio (nessa hora foi ele quem riu).

E ainda lembrei que me vangloriava para minhas amigas por ter 7 anos de experiência em gravação de músicas (dos 8 aos 15 anos). E durante os 7 anos como ‘produtora musical’, continuava cortando a música no final ou gravava os breaks (intervalos comerciais) junto.
Precisei dar um STOP na minha carreira.
É, ainda acredito que foi melhor trocar o ‘play’ pelo papel e o ‘rec’ pelo lápis.

12 de março de 2008

O espelho


Ontem senti uma falta enorme de você. Fiquei te observando. Te analisando friamente em meu pensamento. Teu sorriso estava mais iluminado, tua pele combinando com o arco-íris (o quê?), mas sua alma estava meio ‘preto e branco’ (agora entendi). Você se perdeu ou eu que perdi a sua mudança?

Foi muito depressa. Você deu fim àquele ar inocente, meio ingênuo até. Você perdeu seu maior vício. Rasgou sua roupa de anjo. Nem a auréola acendia mais. Mas eu sei o que foi. Foi um misto de medo, liberdade e maturidade.

Senti falta até do seu jeito desligado, sem a menor noção de localização no espaço, na rua, no bairro, enfim, uma bússola seria um kitsh a mais para te atrapalhar nessa sua vida tão sonhadora.

Até aquela sua mania de dormir nos finais de filmes você perdeu (de dormir no início e no meio também). Você escorregou no pote de mel e achou que tanta doçura não causaria diabetes? Agora está doente, tentando ler a bula depois de ter tomado o veneno.

Minha mãe conta que quando eu tinha 2 anos de idade, amarrei uma trouxinha de roupa num cabo de vassoura, coloquei nos ombros e fui embora de casa (devo ter imitado algum desenho animado do Pica-Pau). Ao saber que teria uma vaca no caminho, voltei.

Foi isso que aconteceu com você. Achou que iria encontrar apenas uma vaca, mas se deparou com uma boiada. Mas que bom que voltou. Voltou a ser o que sempre foi. Já estava com muitas saudades. Se demorasse mais, eu iria desaprender como é bom ser você mesmo, sem mais, nem menos. Eu sempre te amo, menos naqueles três dias do mês (aqueles em que eu quero matar todo mundo).

Mas foi aquela conversa que te abriu os olhos, os ouvidos e a consciência. Que te fez voltar e colocar os pés no chão, mesmo isso não sendo o seu forte. Tem sempre uma conversa dessas que chega de presente.

Agora que você experimentou quem você ACHOU que sempre quis ser (peraí, deixa eu ler essa frase de novo com calma), concluiu que jamais será novamente. Sua mãe te criou tão bem, que se você tomar toda a liberdade do mundo, no máximo terá uma congestão.

E continuei te olhando, e você foi voltando a ser o que sempre quis ser: VOCÊ MESMO.

Você foi sorrindo e eu sorrindo de volta. Senti um alívio e você também sentiu. Agora sei que você voltou pra valer, assim, essa eterna criança.

Continuei me olhando no espelho e percebi que esse tempo todo eu senti falta de mim. Então, desfiz a trouxinha de roupas, guardei o cabo de vassoura e vi minha alma refletida novamente, assim, inocente. Voltei.

Mireille Almeida correndo de braços abertos para matar a saudade de si mesmo.

5 de março de 2008

Analogias de um amor de verão


Droga que nenhum médico receita, porém, não tem contra-indicações. Ele não mata, mas dá taquicardia e falta de ar. É como ir pro Alasca e não levar casaco. “Eu te avisei”, diz aquela voz interior (ou a voz da mãe mesmo).


É tudo tão interessante, diferente e inédito. Como se fosse o primeiro verão que isso acontece. As ondas do mar vão e vem, assim como ele, o amor de verão.

Não pegue onda se não sabe surfar (mas como vou aprender, então?). Ta certo, é subindo na prancha que se aprende o equilíbrio. Momentos intensos, manobras radicais e muitos caldos. Até aprender que a onda começa, mas que também acaba.

O amor de verão é regado a coquetéis coloridos e noites de estrelas. Quem nunca viu o coelhinho na Lua? Aprendi que quem o vê, é porque realmente sabe viver um amor de verão. Saiba que, quando ele começa, tem data, local e vôo pra decolar...e pra bem longe.

Que seja intenso enquanto dure. No amor de verão, não há espaços para pensar em nada. Muito menos no fim. Viva, aproveite, e só o aceite se ele realmente te fizer rir. E que sejam boas gargalhadas.

É claro que o amor de verão aceita tempestades. Porém, curtas. Por um lapso de momento, você age como se ele fosse durar até a próxima primavera. Mas nem tudo são flores. Não brinque de bem-me-quer. Já vi muitos jardins desbotados. Mas não o meu.

Não compre casacos para o seu amor de verão. Enquanto estiver com ele, não precisará. E quando ele sentir frio, você não estará mais por perto.

Aprenda outras línguas, outras gírias, outras idéias que você jamais pensou sequer que existissem, ou que pudessem ser ditas. Não tenha rotina, ritmo ou regras. Seja você, por ao menos um verão. Se ele não te aceitar, calma, o outono surge pleno.

Deixe seu coração bater na intensidade da sua respiração. Deixe sua boca secar e seus lábios tremerem.
Mas nunca, nunca deixe chegar ao seu pensamento. Nunca (é bom repetir em voz alta). É intenso e rápido demais para invadir três ou quatro segundos da sua mente.

Na memória? Cuidado. Se ela invadiu sua memória, foi porque ela escapou quando você estava com aquela cara de bobo.

Memórias póstumas (e não são aquelas que caíram na prova do vestibular)? Somente em outras estações. Aí, sirva-se à vontade, use casaco e olhe para o coelhinho numa noite estrelada.

Se fosse por mim, o horário de verão seria também de invernos, outonos e primaveras. Mas ele tem uma finalidade e, por isso, ele tem um fim. Assim como o amor de verão.

Não é cego, porque nem dá tempo de abrir os olhos. Talvez surdo, para não ouvir palavras tão doces que façam acelerar o coração. Mas é mudo. Porque amor de verão, não precisa dizer adeus. Ele sabe a hora de ir embora. Go, but don’t go away!

É só acertar o relógio e tudo será como tem que ser. Que atire o primeiro grão de areia quem nunca viveu um amor de verão.


Mireille Almeida com o relógio em ponto (mas que por vezes, atrasa).