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16 de agosto de 2007

Eu e Alice no País das Maravilhas


Meus vinte e poucos (para mim, tantos) anos. Lembro-me de quando era criança. Do quanto queria crescer, poder sair para uma festa e voltar tarde da noite. Lembro-me que na minha primeira memorável saída pra uma Festinha de Dança da Vassoura ou de Garagem (para quem tem mais de 30, diz-se Reunião Dançante), voltei para casa à meia-noite, de calça boca de sino, sapato alto e blusa rendada, toda de preto, me achando uma pré-adolescente modernosa. Nesta época o “lance do ficar” começou a dar seus primeiros sinais.


– “Ficou com ele?” Perguntou uma menina enxerida na festa.
E eu, naturalmente: -“Sim”, não entendendo o nível de profundidade da pergunta.
- “Como era o beijo dele?” A menina curiosa perguntara.
- “Beijo? Pra ficar tem que beijar?” Respondi na minha eterna inocência que carrego até hoje. Eu apenas havia dançado com o aspirante à pré-adolescente o tema de O Guarda-Costas com Whitney Houston ou teria sido o tema de Titanic?

E são tantas as lembranças da minha geração que não brincou de rolimã, mas jogava taco com latinhas de óleo de cozinha. Que não ajudava os pais no trabalho, mas brincava de professora e dava bronca nas suas alunas de pano e plástico.

Ah, me lembro da minha coleção de Chuquinhas. Das bonecas que tinham cheiro de frutas. Do Pogobol. Do microfone com cabelo laranja da Xuxa. Dos ursinhos carinhosos (como eu sonhei em ter aquele carro de nuvem). Da tentativa minha e do meu primo de construir um super carro de madeira.

Tantas lembranças para minha pouca idade. O que vou lembrar aos 40? Que eu brincava de pagar as contas, da inflação, da alta do dólar?! Não vou me permitir falar disso.

Será que algum dia deixaremos de ser criança? Tomara que não.

Tomara que meu tio continue sua coleção de carrinhos, que meu primo continue construindo aviões de brinquedo, que meu avô continue dançando lá no céu.
Tomara que minha amiga continue se lambuzando ao tomar sorvete (essa foi pra você Rô) e brincando de casinha (mas agora de verdade).

Tomara que todos nós continuemos rindo de um grande tombo (do nosso e dos outros). Tomara que cada um de nós tenha uma inesquecível lembrança do que já passou. Nem que seja a perna de uma boneca ou uma cicatriz na testa.

Aproveite que a única cicatriz que nos lembra bons momentos são as da infância.

Nem que seja aquela lembrança mais antiga que temos do nosso passado.
A propósito, qual a lembrança mais caduca que você tem aí na sua mente? Difícil, não é mesmo?!

Num ímpeto de nostalgia, e em conversa com uma prima querida, me peguei, hoje, procurando o filme original que mais me fascinou na infância, Alice no País das Maravilhas.

Se algum dia eu quis ser Alice, não me lembro. E se algum dia eu deixarei de ser criança, ah, prefiro que este dia não chegue.

Miréille Almeida em campanha pela volta (em alguns momentos) da parte mais gostosa da vida: a infância.

14 de agosto de 2007

Em vida

Na minha pré-adolescência, um dos assuntos que mais me intrigava (bilhões deles), era o fato do por que ‘raios’ a homenagem vinha (quase) sempre depois da morte do homenageado. E este, sem poder aproveitar os méritos...

Era ele, lapidado numa placa linda de uma praça, de um ginásio, de uma rua. O nome do homenageado. Por que diabos uma pessoa ganha uma homenagem honrosa, glamourosa, repleta de solenidades, entre discurso de prefeitos e politiquinhos, depois que já pegou o caminho pro andar de cima?

Hoje, já passados anos da tal pré-adolescência, entendo que não se pode sair nomeando ruas, praças e lápides por aí, sem antes ter a certeza de que a índole e o caráter do cidadão em questão estejam, por ora, ilibados. Por isso, também não é de bom gosto nomear nada com nomes de políticos. Precisa explicar?!

É certo que o povo morreria de vergonha se a praça da cidade tivesse o nome de Praça Delúbio Soares, ou se a rua principal fosse Rua José Adalberto Vieira da Silva (Já esqueceu?) ou se algum Colégio fosse Luiz Inácio Lula da Silva (ironia pura da minha parte, desculpem-me).

Se eu pudesse, colocaria na minha rua, na minha cidade, no meu país e em todos os planetas o nome daquela que me ensinou o que significa Honestidade (com H maiúsculo) que me ensinou o que é o amor incondicional e dedicação infinita. Esta sim merece uma Homenagem em vida.

Uma homenagem ao dias dos Pais, das Mães e em todos os dias da minha vida, nos quais você me ensina com seu exemplo a ser o que sou hoje e a construir o meu amanhã. E na placa: Mãe, eu te amo eternamente.

Miréille Almeida em campanha para homenagear EM VIDA a pessoa que mais merece o meu respeito (embora muitas vezes eu não demonstre): a minha mãe.

8 de agosto de 2007

Aplausos para o orgulho!

Têm certos assuntos que tiram nossa inspiração. Certas pessoas tiram nossa inspiração. Uma notícia ruim num sábado ensolarado; um telemarketing te oferecendo cartões às 8h da manhã; os semáforos todos fechados quando estamos com pressa; o seu querido chefe, e reticências.

Ah, são tantas as razões para estragar seu dia, que não consigo enumerá-las aqui.

E pior, há pessoas que tem a obrigação de nos INSPIRAR, motivar, incentivar, criticar construtivamente, por um simples motivo: pagam o nosso salário. Mas não o fazem.

Existem pessoas tão autoconfiantes que não têm idéia do quanto dependem de nós para não dependerem de outras pessoas. Tão auto-suficientes que não percebem que é o nosso trabalho que paga suas contas, seus luxos e satisfaz seus clientes.

O ORGULHO é a mais verdadeira tradução de VERGONHA. Não estou me referindo ao orgulho de conquistar algo, de obter sucesso, mas àquela empáfia de não admitir que, em tantas ocasiões, também se comete erros. E isso já é um grande erro. De não admitir que o outro possa acertar. De não aceitar sua própria ignorância. Pura vergonha.

Não nasci sabendo admitir. Aprendi com muitos tropeços da vida e com inúmeras situações em que perdi o rebolado por pensar que tinha razão.

E muitas vezes aquela voz de dentro (aquela que somente nós ouvimos) ainda me manda descer do cavalinho, baixar a bola e assumir: - “Ok, você está certo, me enganei”.
Parece fácil na teoria, não? Mas conheço um bocado de pessoas que nunca sequer proferiram tais palavras e, por mais errados que estejam, conseguem rodear, dar algumas voltas e induzir que quem está errado é você, sem cerimônias. Pena.

Pena por que estas pessoas nunca irão crescer e saber quando mudar suas atitudes, quando pedir desculpas, quando agradecer. Mas saberão exatamente quando será tarde demais para mudar. Porque, um dia, o relincho será tão forte que bastará um único movimento para cair do cavalo. E mais: a platéia estará assistindo de camarote. Aplausos.

ADMITIR ERROS é uma eficiente forma de evoluir e APRENDER.

Infelizmente, há pessoas que preferem deixar de aprender e dar lugar para outros seres humanos, mais evoluídos, passarem na sua frente. Paciência.

Miréille Almeida comprando ingresso para assistir de camarote e aplaudir.

2 de agosto de 2007

REapaixonar-se

Como é bom sentir frio.
Sim, aquele friozinho que percorre a espinha, que arrepia dos pés à cabeça, que faz a gente sorrir logo de manhã cedo (nem sempre).
O coração dispara, as pupilas dilatam, os lábios incham. Sintomas típicos da paixão. Talvez um dos únicos momentos da vida em que a incerteza e a dúvida são nossas aliadas.
Sensações tão mágicas, tão intensas, que duram pouco. Há pessoas viciadas em paixão. Quando ela acaba, tratam logo de procurar o sentimento numa próxima esquina.

E por que o ser humano não se dá ao gostinho de reapaixonar-se?
Brilhante campanha publicitária criada para os produtos Seda, um tempo atrás (ainda não sei se está veiculando), nos mostra como é bom sentir a paixão novamente pela MESMA pessoa. O roteiro da campanha dizia: “Apaixonar-se é fácil, qualquer um se apaixona. O que realmente é difícil é reapaixonar-se.”

E por que deixamos que ela vá embora, sem dar satisfações, sem dizer se volta?
Pelo simples fato do ser humano ser CURIOSO.
É tanta sede que acaba por derrubar o pote. Adoramos queimar etapas para saber o que vem depois. Como se o depois fosse fugir a qualquer momento. É tanta euforia, tanta ansiedade que realmente acaba por escapar entre as nossas mãos.
E ficamos ali, literalmente chupando o dedo.

A paixão é como um pão (não pensem que gosto de rimas). Você está em frente ao forno, sem poder enxergar a massa. Mas a fome é tanta, que você resolve dar uma espiadinha e abre o forno (de leve) para ver se já está quase pronto. Quando percebe, o pão murcha. Não cresce, desanda.
Arrependido? Agora vai à padaria, compra um pão pronto, iguais a todos os outros que você já conhece.
(Vinda de uma redatora péssima na cozinha, você deve estar admirado com esta metáfora, não?!).

Aqueles segundos que antecedem o primeiro beijo, aquele queimor no corpo (não é azia), uma sensação indescritível que gostaríamos de sentir a cada beijo, de prolongar eternamente.

E por que adoramos incendiar as etapas mais especiais da vida? Não é à toa que a curiosidade mata. Mata um futuro que poderia ser mágico, porque você não resistiu e abriu o forno antes de dourar o bolo. Um grande incêndio pode deixar marcas irreversíveis: a conhecida mágoa.

Aproveite cada degrau, cada cena. Ela não sairá correndo de você. E se sair, foi porque não estava no seu script.

Quando a trilha certa tocar, você irá sentir.

Mireille Almeida em campanha para atear fogo na hora certa (entre quatro paredes).