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24 de setembro de 2007

Pretexto vencido...


Os preparativos para a festa junina do colégio estavam chegando. As aulas matutinas foram interrompidas para as turmas das 4ª séries se dirigirem até o ginásio para a emocionante e tensa escolha dos pares. Era a tão esperada Dança da Quadrilha que estava a se formar.
Fila de meninas para um lado, fila de meninos para o outro.
Olhei, e ao meu lado estava um menino de óculos, um pouco gordinho, sem graça. Uma desgraça para a minha primeira dança.


Minha melhor amiga na época também não estava contente com seu par e se encantou por aqueles dois pedacinhos de vidro de olhar furtivo.
Sem pestanejar e de olho na professora, trocamos de lugar.
O meu novo par, quase que num espasmo muscular, (se rimar mais uma vez, vira poema) me concedeu um sorriso de canto de boca, olhando rapidamente para o chão, com um olhar envergonhado de um garoto de 10 anos.

Foi a troca mais bem feita da minha 4ª série. De resto, eu só trocava papéis de carta com cheirinho de flores e frutas.

E foi o cheiro que mais uma vez me fez trocar. Na primeira dança, mãos suadas, nos abraçamos para dar os primeiros passos juntos. Meu coração saltava tanto que tinha medo dele perceber.

Foi então que senti aquele cheirinho gostoso que vinha da sua jaqueta de nylon azul.
Semanas de ensaios, algumas trocas de palavras, naquela época não tinha nem celular, nem msn e nem coragem para pedir o telefone. Só o cheirinho de talco Johnson do seu pescoço.

Chegou o sábado. Ansiosa, mal dormi naquela madrugada esperando o tal sábado da apresentação chegar. Dia ensolarado, vestido amarelo rodado e um blush com aquelas pintinhas pretas que diziam ser ‘charme’ (charme pra mim é o Vin Diesel).

Percorrendo os olhos por todo o pátio do Colégio, nos procurávamos como duas crianças perdidas num parquinho. Enfim, nossos olhares se encontraram (este post está muito romântico).

- “Eu estava te procurando”, disse ele, ansioso.
- “Eu também”, respondi com um ar feliz.

Nisso, corri com ele até minha mãe, que tirou um filme de 36 poses (é, eu sou do tempo do filme de poses), todas de nós dois. Fotos de mãos dadas, abraçadinhos e dançando a quadrilha.

Aquelas poses. Uma lembrança para guardar para sempre e, principalmente, um ótimo PRETEXTO para falar com ele na segunda-feira, terça-feira e outras feiras que estavam por vir. Ou estariam.

Tudo combinado para o nosso próximo encontro. Revelaria o filme e ficaríamos o recreio todo rindo e relembrando aquele sábado.

Enquanto isso, passei o domingo todo com aquele cheiro de talco Johnson no ar.

Chegou a segunda-feira. Ah, que dia mais esperado. Se caísse uma tempestade eu ainda estaria feliz. Era o dia de revelar as 36 poses de nós dois.

Como minha mãe já havia levado o filme para revelar (naquela época não existia nem revelação 1 hora), era chegada a hora de ir buscar.

- “Moça, vim buscar um filme. Aqui está o papelzinho”. Ansiosa, nem sentei para esperar.

Muitos minutos depois, a moça volta com uma expressão não muito agradável.

- “Menina, houve algum problema no seu filme”.
- “Como assim?” Já me exaltando.
- “Seu filme não revelou nenhuma foto”, a moça com cara de quem não apostou seu futuro num filme de 36 poses, me fala.
- “Nenhuma foto? Que história é essa? Esse filme é muito importante. Verifique novamente, por favor,”.

Na verdade, quem resolveu esta história com a ‘atendente tranqüila’ foi minha mãe, por que eu estava em estado de puro choque.

A moça voltou e, se compadecendo com minha cara de ‘a esperança é a última que morre’, me disse calmamente:

- “Querida, o filme estava vencido. Não restou nenhuma foto. O que podemos fazer é lhe dar um novo”.

Por uns instantes não tive reação. Um novo filme? O que eu iria fazer com um novo filme, totalmente em branco? Não poderia reescrever aquela história.

Aquele dia não voltaria mais. O pretexto para falar com o moço da jaqueta de nylon azul estava com a data de validade vencida.

A única lembrança que me restou foi o cheiro daquele talco Johnson da sua jaqueta de nylon azul.

Mireille Almeida em campanha para a Johnson nunca parar de fabricar boas lembranças.

3 comentários:

  1. baaaa ainda estou com a sua historinha na cabeça vi tudo como se fosse um gibizinho animado as caras e bocas estava otima, muito boa a sua tecnica de descriçao de historia pessoal adorei mto boa mesmo essa sua passagem....e qto ao meu blog tenho q pensar em coisas do genero tb....

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  2. hehehehheh!! Mais uma vez, é claro, eu sei quem é!!!! huahuahua Essa história é divertida.. só não pensei que vc ainda sofresse tanto.... hauhuaua Brincadeirinhas a parte... o texto tá ótimo!!! Beijos e saudade!!

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  3. AH cheiros..... quantas lembranças, nem sempre tão boas porém lembraças......Otima historia pena q não teve um final tão feliz, mas pelo menos ficou na lembrança...Bjs

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