Eu subi aquelas escadas já sabendo como desceria. Cada degrau que me levava ao alto, também me secava a saliva e me passava um filme preto e branco na cabeça. Era um frio na barriga, uma ansiedade de quem procura o nome na lista dos aprovados ou de quem sabe que precisa romper o que parece colado. Aqueles minutos antes. Intermináveis e tão rápidos.
Ouvir o que não se deseja não é para qualquer coração. E muito menos aceitar o que não se quer. Guardo como ouro um conselho da minha mãe, que diz: “primeiro a gente tenta resolver, depois a gente chora”. Porque quem tenta – de verdade – resolver uma situação incômoda, talvez não precise nem derramar uma lágrima.
Mas só resolve quem se incomoda. E espera aquele que se acomoda. Não estou falando de medo. Estou falando de coragem. Para saber temos que perguntar. Mesmo que a resposta não venha agora. Uma porta pode não abrir se você não tiver a chave certa, mas você sabe que em alguma fechadura ela vai entrar. Mas, de verdade, não acredito em chaves abrindo portas com a força do pensamento. Só se for um ladrão.
Descobri que o ser humano precisa se incomodar mais. Dormir cedo e acordar antes. Não podemos esperar ninguém chamar porque tem sempre outro que pode ouvir. E a chave dele pode abrir a sua fechadura. Acontece.
O maior problema é quando o problema se acostuma com você. Porque problema adora uma inércia. Problema almoça preguiça e janta insegurança.
É difícil subir os degraus da vida. Poético, mas tem quem prefira ser levado no colo. Minha professora de ginástica falou que quando estamos exaustos, cansados e quase desistindo, o nosso físico ainda pode ir 70% além disso. Ela estava falando do corpo. E se o corpo pode ir tão além, certamente é porque a nossa mente permite.
Permitir descobrir que somos mais poderosos do que se imagina tem um efeito surpreendente. Para nós mesmos. Ninguém precisa ficar sabendo. Porque a força sempre transparece. E é ela que nos incomoda para mudar.
Na hora em que eu permiti ser mais forte do que a minha fraqueza, eu ganhei coragem. Eu poderia ter convidado meu problema para dormir comigo e ter ficado quietinha alimentando-o. Ele iria engordar. É como um fumante que tenta parar. Algum dia ele colocou o primeiro cigarro na boca e hoje tenta colocar o último. Foi aí que resolvi malhar o meu medo. Acostumado a comer pouco, ele entrou em forma rapidinho e eu consegui subir mais um degrau da minha vida. E a escada é grande. Ainda bem.
Miréille Almeida na academia da vida.