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22 de dezembro de 2008

Na companhia do medo


Eu tenho medos. Incontáveis. De rato correndo, de carro-forte na frente de banco, de qualquer filme que não seja de rir. Medo mórbido de atravessar a rua, de ventilador de teto (quando ele se balança todo) e de lagartixa na parede. Medo horripilante de panela de pressão, de gatos de qualquer espécie e de porões. Medo terrível de injeção antitetânica, de andar de moto e de apartamento térreo.


E me desfiz de alguns como quem doa um abraço a quem precisa. Me desfiz daqueles que me causaram enjôo. Percebi que ninguém precisava deles. Muito menos eu.
E agora, já não tenho medo de escrever o que sinto, mesmo que você leia com desinteresse. Ou nem leia. Mesmo que você não me escute, eu falo e tento escutar teu coração. Porque sei que da tua boca, nada sairá. Apenas me escute, então.

Ainda que você não tenha ouvidos, eu tenho sentimentos. Enquanto eu conto como foi bom hoje e tento despertar em ti alguma palavra doce, sua boca sempre desconversa. É nessa hora que me calo. E sinto um amargo escorrer.

Medo de quê? Se eu já aprendi a pedir teus abraços, a dizer como teu beijo é macio, como tua pele se combina com a minha e tua companhia me envolve em sorrisos.

Medo do quê? De que nada seja verdade? De ceder e cair no seu próprio abismo? Já se perguntou se eu tenho medo? Tenho. Mas não me fecho diante deles.

Você não diz. Talvez também não sinta. Pena. Isso me enferruja e me faz emudecer. Por enquanto, não perdi a voz. Quando eu me calar você vai saber, e vai sentir. Por mais que finja não me escutar. Aí, você vai querer falar.

Miréille Almeida querendo apenas ouvir.